Entretextos - Artículos/Articles/Pütchi
Revista de Estudios Interculturales desde Latinoamérica y el Caribe
Facultad Ciencias de la Educación. Universidad de La Guajira. Colombia
ISSN: 0123-9333 / e-ISSN 2805-6159, Año: 17 N.o 32 (enero-junio), 2023, pp. 96-109
Este trabajo fue depositado en Zenodo: DOI: https//doi.org/10.5281/zenodo.7868840
Recibido: 15-08-2022 · Aceptado: 10-11-2022
Os saberes de ontem são necessários hoje? Ou como pachamama ajuda a pensar a educação planetária
Is yesterday's knowledge necessary today? Or how the pachamama helps to think about planetary education
Jamüsü maachon mma jünain akaalijaa jünain jülüja aa’in jikirajaaya mmatu’ujatkaa
Ivan Fortunato
https://orcid.org/0000-0002-1870-7528
ivanfrt@yahoo.com.br
Docente Instituto Federal de São Paulo, campus Itapetininga, Brasil
Resumo
Este artigo, escrito na forma de ensaio, pretende argumentar a favor da salvaguarda de saberes ancestrais para educação planetária. Ao longo deste escrito, voltamos à Pachamama com a intenção de tentar reconhecer mais sua onipresença em nosso cotidiano, embora o que temos é sua essência menosprezada pelo nosso projeto de humanidade contemporâneo. O retorno à cosmovisão parece necessário para (re)pensarmos não apenas o futuro da vida planetária, mas também a existência da vida no tempo presente, vivido no aqui e agora. Quem sabe a compreensão de que não somos separados da natureza, mas somos uno com a Mãe-Terra não seja um caminho possível para uma outra existência?
Palavras-chaves: Cosmovisão. Educação Planetária. Mãe-Terra. Pachamama.
Abstract
This paper, written in the form of an essay, intends to argue in favor of safeguarding ancestral knowledge for planetary education. Throughout this writing, we return to Pachamama with the intention of trying to recognize more of its omnipresence in our daily lives, although what we have is its essence that is neglected by our contemporary project of humanity. The return to the cosmovision seems necessary for us to (re)think not only the future of planetary life, but also the existence of life in the present time, lived in here and now. Who knows the understanding that we are not separate from nature, but we are one with Mother Earth is not a possible path to another existence?
Keywords: Cosmovision. Planetary Education. Mother earth. Pachamama.
Aküjia palitpütchiru’u
A’yatawaakaa tüü, ashajünaka jüka na’yataayapala ashajülii, achejaasü asoutta jünainmüin anaajawaa atüjalaa kama’airü jüpüla wanee ekirajawaa jünain tü kasa eeka mmatu’upüna. Julu’ujee jupushuwaa’aya ashajalaaka, wanalaa wachukua’aya jünain maachon mma jüpüla atüjawaa a’u jumulo’ula jee jücheujaala wamüin watta’awoi, mayaasüje’e eein wamana jütsüin nnojoliaaka jamajatüin watuma jüsala washanala joolujutkaa mmapa’apüna. Jüle’ejiria jüchikua’aya jüsalajatü cheujaain jülüjaa aa’in juchukua’aya nnojotsiaaje’ein jüpülajatüin jülüja’ala aa’in tü eeinjatka watta ka’i yayaa mmatu’u, jia jüpüla tü kataaka o’uu joolu’u, tü eeyüliaka moo’utpüna yaa. ¿Jaraliikana atüjaaka a’u nnojoliin waya wattaawain juulia tü kasa eeka mmatu’u, jirüinjee waneeshin waya jümaa Maachon Mma nnojotsiaaje’e jiain waneesüin julu’u wopuin anaka jüpüla kataa o’uu.
Pütchi katsüinsükat: Ekiiru’ujeejatü. Jikirajaajaaya kasa mmatu’ujatü. Maachon Mma. Mma-
Os saberes de ontem...
O |
passado está em toda parte. Ao nosso redor existem características com antecedentes mais ou menos familiares. Relíquias, histórias, memórias permeiam a experiência humana. A maioria dos vestígios do passado acaba por perecer e tudo o que resta é alterado. Mas eles são coletivamente duradouros. Notado ou ignorado, estimado ou rejeitado, o passado é onipresente[1]. (Lowenthal, 2015, p. 1)
Este artigo emerge do cotidiano vivido como professor formador de professores e as inquietações mote do trabalho realizado ao longo dos últimos anos à procura de uma educação que favoreça a construção de outro mundo. Isso porque a manutenção do status quo implica manter a vida planetária como está, ou seja, um mundo em contínua crise ecológica e axiológica há séculos.
Este texto, escrito na forma de ensaio, pretende debater a favor da salvaguarda de saberes ancestrais para educação planetária. Por quê? Bem, como verificamos na citação da epígrafe, o passado é onipresente e, mesmo que seja ignorado, alterado, colonizado, destroçado…, faz parte da nossa vida contemporânea. Daí que vem a hipótese de Lowenthal (2015) de que “o passado é um país estrangeiro”, ou seja, pode-se conhecê-lo superficialmente, experimentando algumas alegorias de sua cultura, ou pode-se aventurar a desbravá-lo com profundidade conhecendo-o em suas minúcias.
Nesse sentido, voltar ao passado pode ser mera curiosidade ou pode ser um mergulho na compreensão da própria humanidade. Se a volta é rasa ou significativa, tudo depende da intenção que se tem ao escarafunchar o que já se passou. Aqui, como o propósito é discutir a educação planetária, fica a ambição de escarafunchar saberes ancestrais (portanto ainda onipresentes) para melhor compreensão do que temos hoje como sociedade: um mundo globalizado, neoliberal, imperial e colonial. Assim, fica a esperança de que o retorno aos saberes ancestrais ajude a ampliar nossa visão de sociedade planetária, de respeito à vida – de todas as espécies.
Dessa maneira, para falar de saberes ancestrais e educação planetária voltamos à Pachamama. Também conhecida como Gaia, Prithvi Mata, Annan, Dea Matrona... entre tantos outros nomes, Pachamama é a grande Mãe, a Mãe-Natureza, a Deusa-Natureza, ou seja, é uma deidade que simboliza todo o mundo natural, do qual nós – seres humanos – também somos parte. Ao longo deste escrito, voltamos à Pachamama com a intenção de tentar reconhecer mais sua onipresença em nosso cotidiano, embora o que temos é sua essência menosprezada pelo nosso projeto de humanidade contemporâneo. Isso fica muito mais claro nas palavras de Brito (2021), ao afirmar que:
Atualmente, na verdade de longa data, a natureza de espaço sacralizado de integração do ser humano em sua subjetividade amorosa e espiritual, passou a caráter unicamente utilitarista e econômico, no máximo espaços de parques e praças numa visão lúdica do paraíso perdido. Deixou de ser um lugar de encontros e espiritualidade, para a depredação de seus recursos, sem medir o futuro das próximas gerações e sem respeitar as fronteiras. Visão fruta de um antropocentrismo cristão-judaico e grego, ocidentalizado, a floresta tornou-se madeira, os rios barragens e o solo minérios. O próprio ar com a finalidade de sequestro no mercado da vida entre as nações. Uma desconexão cognitiva e da ciência construída na modernidade. Com explicações científicas a favor do progresso industrial e tecnológico, tornou-se mercadoria, somente isso. Os templos nos bosques, nas pedras, nos rios, restaram aos povos ‘primitivos’ ou religiões tidas como seitas preconceituosas de descendentes afros ou cultos a entidades da natureza, aos índios e as bruxas. (Brito, 2021, p. 179)
Nessa extensa citação, verificamos que a sacralidade da natureza a qual, reiterando, a vida humana é parte de um todo complexo, tem sido anuviada por outra deidade: a do lucro. A séculos, a sociedade tecnocrata vem exercendo seu poder extrativista sobre a natureza, entendendo, conforme o autor, a floresta como madeira, os rios como barragens, o solo como minérios... e podemos ir além: os seres humanos como escravos e os povos nativos das terras colonizadas como obstáculos ao lucro.
Aqui, é necessário abrir parênteses, pois, no momento de escrita deste texto, o povo Yanomami, originários e habitantes da Amazônia, vem sofrendo novamente com ataques à sua ‘primitividade’. De acordo com a ONG Survival Brasil[2], pelo menos desde 1940 esse povo vem sofrendo com ações de extrativismo, pois a riqueza da floresta é vista como fonte de dinheiro. Daí que, na indagação de Chomsky (2002), “o lucro ou as pessoas?”, lamentavelmente vamos tendo ciência de que sempre o lucro é o mais importante. Sempre. Seria essa a explicação de tantos genocídios e da própria colonização, que parece, às vezes, coincidir com a própria história da civilização?
Pois então fica a inquietação: e se voltássemos à nossa primitividade, escolheríamos o lucro ou as pessoas?
De acordo com Leonardo Boff (2002, p. 100), parece que nossa escolha não seria o lucro, nem as pessoas, mas a vida, complexa, planetária; afinal, “somos seres humanos nascidos do húmus, somos a própria terra, os seres humanos são uma única realidade complexa, não vivemos sobre a terra, somos a própria terra, aquela que chegou a sentir, a pensar, a amar, e hoje está alarmada”.
Essa constatação de que somos a própria terra é um indicativo da onipresença do passado, que nos leva de volta a tempos pré-civilizatórios, quando a cosmovisão era algo do cotidiano. A cosmovisão pode ser entendida da maneira como foi delineada por Brito (2012, p. 186), na qual tínhamos “Gaia como centro da vida e os seres interligados, numa delicada relação sistêmica”. Segundo o autor, trata-se de uma compreensão cósmica “da Pachamama, não ocidentalizada, cristã e misógina”, sendo que pela compreensão ocidentalizada, o que temos é parte de um mundo colonizado, escravizado, sobrepujado e largado à própria sorte. Pior: fizeram-nos acreditar que somos duplamente culpados, como diz Enrique Dussel (2005): culpados por sermos inferiores e culpados por resistir.
Dessa forma, a compreensão cósmica é uma compreensão outra que, conforme a onipresença do passado, nunca deixamos de ter – embora a opção pelo lucro a tenha sobrepujado.
Com isso, é possível listar uma tríade de elementos fundantes para o retorno à onipresença de Pachamama: como arquétipo, como deidade e como natureza de direito. Esses três elementos são trazidos aqui para ajudar a (re)pensar a vida e meios de como a educação pode se tornar efetivamente planetária.
Dessa maneira, o texto se organiza em duas seções independentes e complementares, da seguinte maneira: primeiro é a apresentada a tríade da onipresença de Pachamama, em seguida, uma breve discussão de como retornar a esse saber do passado-ainda-presente se torna fundamento para a educação planetária tão necessária hoje.
Ao final, espera-se que as elucubrações aventadas cá neste argumento sirva para manter os saberes do passado notados e estimados, ao invés de ignorados e rejeitados, como preconizara David Lowenthal. E que, ao ser notado e estimado, tenhamos como objetivo uma outra forma de valorizar a vida planetária.
Tríade
Ao recuperar a literatura sobre os significados de Pachamama, foi possível reconhecer que os textos consultados tendem a explica-la por meio dos três elementos já mencionados: arquétipo, deidade e sujeito de direito. De certa maneira, essa tríade foi bem capturada por Brito (2021) na passagem a seguir:
Mãe Terra, a representação da divindade em forma feminina, a fecundidade, a criação, os braços maternos que embalam a vida. Mais, muito além de um debate de gênero, também, mas uma cosmovisão do cuidado, que nasce das raízes das florestas e das montanhas que se espalham nos Andes. Originária da língua quéchua, oficial na Bolívia, Peru e Equador, falada e viva por milhões de pessoas, Pachamama é deidade acolhedora da natureza, incorporada nas constituições do Equador e Bolívia como meio ambiente sujeito de direito, rompendo a lógica da construção jurídica do pensamento ocidental. (Brito, 2021, p. 186)
Ao tomar a tríade como guia para análise desse conhecimento antigo e onipresente, começamos pelo princípio de que se trata de um arquétipo. Com Dutra (2021, p. 854) vimos que Pachamama é um “arquétipo universal existente em todo ser humano como resultado das experiências de sobrevivência da espécie ao longo da evolução”, com distintos nomes para representá-la, diferentes formas de adoração e prostração, variadas maneiras de representação.
Ao destrinchar a palavra, Apaza (2018, p. 45) afirma que “A categoria étnica pacha equivale a universo, mundo, tempo, espaço e céu. Mama significa anciã[3]“. Também ao separar a palavra para decifrar seu significado, Tolentino & Oliveira (2015, p. 315) afirmam que “o termo pachamama é formado pelos vocábulos pacha que significa universo, mundo, tempo, lugar, e mama traduzido como mãe. De acordo com vestígios que restaram, a Pachamama é um mito andino que se refere ao tempo vinculado à terra”. E, para Huanca (2019, p. 17), “pacha é uma palavra dual de interpretação recíproca conectada com duas condições: uma estática (espaço) e outra dinâmica (tempo), a pacha representa o tempo andino na forma de um loop ou espiral visto de cima[4].
Embora seja um arquétipo universal da grande mãe, vimos pelas definições distintas que Pachamama parece ser a representação do espaçotempo da vida, que não é o tempo cronológico, medido em horas, dias, meses ou anos, mas o tempo sentido da experiência, ao passo em que também é o lugar como morada da vida em si. Por isso uma cosmovisão, já que a complexidade da coisa não se limita tampouco é bastante apenas sua concretude da coisa, ou seja, não é a vida vivida apenas numa quarta-feira, dia 20 de março, às 15h35, em determinada geolocalização.
A presença em determinado local e em determinado tempo é apenas parte de uma existência para além dos limites do próprio corpo. Afinal, nosso pensamento nos transporta ao passado e ao futuro, assim como nossas ações impactam direta ou indiretamente nas ações de outras pessoas modificando eventos no aqui e agora ou em outro tempo, que não é uma linha, mas uma espiral. Isso sem contar nossa existência permanente nas pessoas que fazem parte de nosso círculo familiar, de amizades e de trabalho. Ou mesmo nosso trabalho, independente do ofício, que alcança outras localidades, outras pessoas... enfim, a cosmovisão nos leva à essa compreensão.
Do seu elemento arquetípico, a pacha, como cosmovisão, deriva seu elemento deidade. Basicamente, é a forma, em duas ou três dimensões, dada à cosmovisão e à qual se utiliza como objeto ou imagem para se prostrar, adorar, dialogar, relembrar, se conectar... com o sentido arquetípico do tempoespaço vivido. Assim, mama é a mãe e/ou a anciã e sua deidade também assume variadas formas, mas sempre retornando à “grande terra que dirige e sustenta a vida[5]“ (Paredes, 1920, p. 38).
É como registrou Apaza (2018, p. 45): “A Mãe Terra, Pachamama, se manifesta na figura de uma mulher, que aparece no sonho como uma velha desconhecida[6]“. Assim, além de nos religar com a compreensão de que somos (nós, humanos) terra, a Pachamama como deidade (Mãe, Mulher, Deusa) também nos ajuda a refletir sobre o patriarcado e a dominação dos homens brancos europeus como donos do mundo, nos voltando à decolonização planetária.
Isso não significa voltar à fábula da sociedade matriarcal, na qual reinam estereótipos de um mundo melhor e mais afetuoso porque as mulheres estariam no comando das coisas, cuidando de tudo como as mães cuidam de seus filhos, ou porque representam a fertilidade que gera vida e alimentos (Guimarães Guerra, 2021). Isso significa ampliar e complexificar a compreensão dos sentidos da vida planetária, na qual as coisas não são simplesmente duais (mater ou pater), mas complementares (mater e pater).
Ao final da tríade, o retorno à Pachamama, ainda, nos coloca em contato com mais um elemento importante para pensarmos a vida planetária: a natureza como sujeito de direito, incorporada expressamente nas constituições federais da Bolívia e do Equador. Segundo Tolentino & Oliveira (2015, p. 321), esse reconhecimento “implica um novo paradigma no pensamento constitucional e nos demais ramos das ciências jurídicas, mas causa discussões e estranheza no campo teórico”, pois “nesse quadro, a natureza deixa de ser objeto e passa a sujeito de direito” (p. 328).
Afinal, uma coisa é reconhecer o extrativismo e outras formas de dano à natureza como crimes que interferem negativamente na vida humana, outra coisa é reconhece-los como crime de dano à própria natureza como sujeito. Embora isso possa ser algo estranho à sociedade que tem o ser humano como centro do universo, mas é algo desejável e normal na sociedade que não é antropocêntrica, mas biocêntrica. Então, ao analisar essa questão de Pachamama como sujeito de direitos, Tolentino & Oliveira (2015) verificaram que:
Os direitos da natureza, sejam na Constituição da Bolívia ou na do Equador, bem como a Lei da Mãe Terra, ao que tudo indica, podem ser um instrumento que possibilite o equilíbrio do ambiente, entendendo a pessoa humana como parte da Pachamama, ou seja, da natureza, a qual tem o direito à vida. A nova legislação, nascida do debate entre os próprios atores sociais, garante a proteção da natureza, recupera e fortalece os saberes locais e conhecimentos ancestrais. A Lei da Mãe Terra baseia-se no fato de que, se o ser humano faz parte dessa terra (Pachamama), e se ela tem direitos, os seres humanos também têm direitos: direito à vida, à saúde, ao bem-estar, como têm também o dever de obrigações e de respeitá-la. A Bolívia e o Equador deram um passo importante ao reconhecer a condição “sagrada” da terra, como algo muito importante para a vida - como é vista a Pachamama - não na sua percepção folclórica ou mitológica - mas como um sistema vivo, no qual o ser humano é só mais um elemento. Garantir o equilíbrio desse sistema passa a ser fundamental também para a sobrevivência das espécies, inclusive o homem. Proteger a Pachamama é tornar efetivo o direito à vida em suas múltiplas dimensões. (Tolentino & Oliveira, 2015, p. 331)
O reconhecimento de Pachamama como sujeito de direitos é uma evolução ao pensamento simplista, que separa a humanidade da natureza e a compreende como provedora de bens de consumo ao desenvolvimento civilizatório. Não obstante, vimos com Huanca (2019) que tal reconhecimento pode ainda não ser suficiente para nos levar (coletivamente como humanidade) à cosmovisão. Isso porque, explica a autora, a legislação que outorga à Pachamama seus direitos, foi redigida e promulgada sob a égide da sociedade capitalista neoliberal, não sendo capaz de romper com o modelo vigente de produção, consumo e lucro. Registrou a autora que a lei:
[...] outorga direitos à Mãe Terra identificada com a Natureza e todo sistema vivo que a habita, mas não de forma complementar, equilibrada ou igual ao ser humano, esta forma de apreciar nos dá a entender que sua racionalidade ainda tem uma inclinação humanista, antropocêntrica. (Huanca, 2019, p. 26)
Essa citação desnuda importante particularidade a respeito dessa tipificação de Pachamama como sujeito de direito: ainda há um olhar condescendente à natureza como algo que se usa, mas também se preserva; que se extrai o que convém ao ser humano, mas que também se falseia uma proteção porque é inferior. Nesse sentido, embora exista a outorga de sujeito de direito à Pachamama, verifica-se que a compreensão ainda é aquela que propõe a dualidade humano-natureza, na qual existe a clara demarcação entre o mundo natural e o mundo cultural.
Daí vem contundentes perguntas: como é que a análise dos elementos da tríade pode ajudar a pensar em outra vida planetária? E, mais importante ainda ao que faço cotidianamente por ofício: como é que esse cotejamento entre os saberes do passado e sua onipresença ajuda a pensar a educação planetária?
Educação
Ao refletir sobre a questão anterior, tentado a localizar respostas na literatura, encontrei eco na afirmação de Ernesto Keim (2015, p. 86), ao registrar que a Educação com lastro na cosmovisão da Pachamama “caracteriza-se como um genuíno movimento de libertação da matriz colonialista”. Isso porque, ao incluir a humanidade como parte e não aparte da natureza, geramos uma posição de enfrentamento às posições políticas, produtivas, econômicas, extrativistas, exploratórias e depredatórias que têm gerido a vida planetária já há séculos.
E conforme tenho registrado, meu entendimento é de que a Educação – como processo formal institucionalizado, que acontece nas escolas e faculdades – é o lugar do fortalecimento da resistência ao status quo (Fortunato, 2023; 2022). Contudo, isso implica dupla resistência: primeiro, há que se romper com o modelo secular de educação formal, a qual se baseia unicamente no currículo oficial e no treinamento de competências. Sem esse rompimento, não há como se alcançar a resistência segunda, que é justamente a libertação maior do projeto colonial já instalado há séculos no planeta, portanto tido como único modo de vida.
Pensando nisso que o esforço tem sido direcionado para a educação decolonial, focando principalmente no desenvolvimento da humanidade em um movimento que não é unidirecional de professor para estudante, mas complexo, envolvendo estudantes, professor e as circunstâncias que nos envolvem (Fortunato, Araújo & Medeiros, 2022). E essa forma de trabalho educativo ressoa com o que registrou Keim (2015, p. 88), ao também propor o retorno à Pachamama como meio de se romper com o mundo colonial: “agir com humanidade significa adotar princípios de convivência de tal forma que a responsabilidade pelo bem-estar da Mãe Terra seja um referencial maior, a favor da vida compreendida em sua diversidade, dinamismo e complexidade”.
Com isso, vai ficando evidente a importância de se retornar aos saberes de ontem, que foram construídos antes da colonização do mundo, antes da instalação da ideia maior do lucro sobre as pessoas, antes do extrativismo. Não obstante, como já delineado, esses saberes são onipresentes, mesmo que tenham sido soterrados junto com as pessoas e a cultura dos povos colonizados. É preciso, então, grandes esforços para que sejam recuperados e estimados, pois implicam valorizar a vida, não somente humana, mas planetária. Aliás, segundo Keim (2015), recuperar esses saberes promovem a recuperação de três expressões humanas que não têm encontrado seu lugar no cotidiano:
[…] a humanidade se manifesta pelos registros ancestrais e pela cosmovisão dos povos, ao considerar que sua originalidade tem a dimensão do SER como manifestação atribuída aos sentidos e manifestos como algo racional, representados simbolicamente pela cabeça ao caracterizar uma dimensão de pertencimento. A dimensão do SENTIR se manifesta pelos sentimentos que são representados simbolicamente pelo coração, ao caracterizar uma dimensão de relação. A dimensão da EMOÇÃO se manifesta pelo prazer e pelos sentimentos, os quais são representados simbolicamente pela pelve, caracterizando uma dimensão de fecundidade. Essas três expressões, Ser, Sentir e Emoção, desafiam o contexto civilizatório forjado na competitividade e na acumulação individualista de matriz eurocéntrica. (Keim, 2015, p. 90)
Dessa forma, pensar no retorno proposto quer dizer retornar às dimensões do Ser, do Sentir e da Emoção que perderam lugar na vida planetária. Quando retornam, é de forma análoga à outorga de sujeito de direito à Pachamama, ou seja, é pela ótica da matriz eurocêntrica que, evidentemente, opera pela preferência ao lucro.
Ao colocar essas dimensões em evidência, de imediato já verificamos que não cabem no nosso modelo de educação, porque não cabem no nosso modelo de sociedade produtiva, calcada na produção industrial massiva e consumo igualmente copioso, onde impera a disputa, a falta de cooperação, a exploração e o extrativismo. Um quadro elaborado por Zaak Saraiva (2019) deixa tudo isso bem claro, pois, segundo o autor, as chagas do mundo incluem não apenas a pobreza, fome e miséria, falta de saneamento, exploração e escravidão, mas também o extrativismo do qual faz parte a “devastação ambiental sem precedentes, a extinção em massa de espécies e o esgotamento de recursos”.
Na perspectiva do autor, tais mazelas são de origem “política, socioeconômica, geológica e biológica”, às quais eu incluiria a educação, pois ao deixar de agir como resistência se torna não somente conivente, mas uma aliada ao status quo. Por isso, Zaak Saraiva (2019) afirma que a coletividade a ser construída não é apenas a da espécie humana, mas a de Pachamama. Ou seja, é preciso um retorno à cosmovisão como projeto planetário. E se é possível alguém argumentar que não é preciso temer um armagedom, logo é necessário contra argumentar que neste exato momento há vidas em descaso partilhando da nossa morada, seja humana ou não.
Por isso foi dito que quando o propósito educativo é a formação de pessoas bem preparadas para enfrentar o mundo competitivo, o que temos é uma educação que também parte do modelo vigente de exploração e extrativismo – mesmo que, em discurso, se apresente como transformadora. Daí temos Keim (2020) falando sobre uma Pedagogia da Pachamama, na qual
Essa abordagem de fazer educação, aponta como decorrência, um processo permanente de mudanças necessárias para alcançar liberdade e emancipação a favor da vida com dignidade, mediada por metamorfoses, as quais se caracterizam como mudanças que se efetivam na raiz e na estrutura fundamental dos implicados de forma que se apresentam como processo sem volta. Assim, para ilustrar, apontamos que uma lagarta ao se metamorfosear em borboleta, não volta a ser lagarta e temos que a educação quando se efetiva tem decorrência similar. (Keim, 2020, p. 1391)
Em momento algum se fala em competências ou saberes, ensino de conteúdos ou avaliações classificatórias que, basicamente, compõem o secular modelo educativo que tem servido à manutenção do status quo. Trata-se da educação bancária tão bem delineada por Paulo Freire (2012; 1996), a qual contrastava com sua perspectiva crítica de mundo, a qual sempre teve como intenção a inserção das pessoas na vida coletiva. Não seria a abordagem freiriana de educar um processo análogo à metamorfose da borboleta? Afinal, trata-se de um processo que busca emancipação de si mesmo como pessoa presente e produtora da história, ao invés de mais um elemento de um sistema que extingue as idiossincrasias e inibe a dignidade planetária.
Mais uma vez, volto à Keim (2020), cujas palavras expressam de forma bem mais clara e contundente o que gostaria de dizer:
[…] por sermos vivos, somos Pachamama, e preservar a vida da Pachamama significa preservar nossa própria vida, de forma que ao buscarmos a emancipação do que promove vida com dignidade, abraçamos uma proposta em que emancipação representa uma condição permanente de enfrentamento ao que gera miséria e alienação, que propagam e sustentam a barbarie. (Keim, 2020, p. 1403)
Voltar à onipresença de Pachamama em nossa sociedade que, a séculos, cedeu à barbárie, promovendo genocídios e destruição, colonizando povos e lugares, é voltar à dignidade. Dessa maneira, voltar a Educação às lições do passado é pensar e agir diferentemente do que está posto como modelo bancário, tradicional, treinador de competências e promotor de competição... como teria anotado Keim (2020), trata-se da repetição de mantras colonialistas, mas também, adiciona-se, mantras patriarcais, neoliberais, extrativistas, contrários à dignidade planetária.
Assim, usufruindo elasticamente do que foi escrito por Keim (2020, p. 1407, grifos do autor), também sou sectário de dois aspectos referenciais da educação mencionados pelo colega: “O vivencial que caracteriza a situação em si com toda a sua complexidade […] e o essencial que se caracteriza como a palavra que equaciona e registra o ocorrido, sentido e intuído, para compartilhar”.
Ao longo dos últimos anos, no ofício de professor formador de professores, tenho efetivamente percebido que há um descompasso entre currículo a ser transmitido por meio de depósito de envelopes de conhecimentos e o cotidiano vivido pelas pessoas que adentram as salas de aula. Por isso, tenho tomado o vivencial, o que é vivo, o que é visto e vivido pelas pessoas, incluindo a mim nesse vórtice complexo que é falar da vida, em todas suas angústias e esperanças (Fortunato, 2023; 2022). Para mim, não há como educar por meio das ementas e seu rol de conteúdos e bibliografias obrigatórias, pois nada disso foi concebido de forma orgânica pelas pessoas que estão envolvidas no processo. Por isso, tenho tomado outra direção, a de partir do que é vivo, das curiosidades que cada um de nós temos sobre o mundo e as particularidades inerentes a cada tema de aula.
Daí a concordância com o elemento essencial como um referencial da educação planetária, pois o essencial é a colheita do que foi semeado e nutrido durante todo o processo, de forma individual e coletiva. Ao final de um processo educativo, se colhe o que se identifica como pertinente para si e o faz partilhando o que foi aprendido, apreendido e mobilizado como ser humano presente e parte de um complexo sistema vivo chamado Terra, Mãe-Terra, Pachamama.
Daí que a pergunta feita ao final da seção anterior cá retorna para ser respondida: como é que esse cotejamento entre os saberes do passado e sua onipresença ajuda a pensar a educação planetária? Bem, se fosse possível dizer tudo o que gostaria dizer em uma única frase, diria que: os saberes do passado onipresentes nos ajudam a compreender que nossa existência na Terra não é linear, mas em espiral, não se encerra em nós mesmos, mas na nossa presença no que fazemos, no que produzimos, nas pessoas que fazem parte de nossa vida direta ou indiretamente; portanto, a educação não pode ser simples a ponto de tratar apenas de competências e/ou de saberes da razão, mas complexa a ponto de nos mobilizar a compreender nossa complexa coexistência conosco, com os outros e com mundo, logo, planetária.
...são necessários hoje?
A Pachamama e o humano”. Que título, que dúvida. A questão fundamental. A vida. O que o humano fez até agora para responder? O humano ainda não respondeu adequadamente à forma como vem tratando a Pachamama. Em vez de alcançar o equilíbrio para chegar à paz eterna, ele fez o oposto. As guerras, a fabricação de armas, a pilhagem e exploração da natureza até a exaustão, nada mais fizeram do que promover um mundo de ricos, pobres, famintos, escravos... de raças “superiores e civilizadas” e de raças “inferiores e selvagem[7]. (Bayer, 2011, p. 11)
O artigo começou com uma constatação: o passado não nos deixa, mesmo que se faça de tudo para destroça-lo, soterra-lo, esquecê-lo. Sua onipresença insiste em fazer parte da vida cotidiana, de uma forma ou de outra. Daí a pergunta: isso ajuda a pensar a educação para a era planetária de hoje?
Para ensaiar respostas, foi eleito um elemento do passado que nos ajuda a entender melhor a relação entre humanidade e o planeta habitado: Pachamama, ou a Mãe-Terra. Pachamama foi pormenorizada em uma tríade da presença do passado no presente: como arquétipo, como deidade e como sujeito de direito. Mesmo assim, foi compreendida ainda como um elemento segregado, inferior e provedor da vida humana conforme projeto de humanidade desenhada e mantida pelo lucro.
Nesse sentido, foi buscada a relação entre o retorno à onipresença de Pachamama e a educação planetária. Aí se identificou uma possibilidade de rompimento com o status quo, pois a unidade humano-natureza ajuda a promover outra educação, que não foca nas competências da manutenção do lucro, da exploração e do extrativismo, mas no ser, na emancipação, na liberdade, na emoção, no sentimento, no vivencial e no essencial que é viver com dignidade e em harmonia consigo mesmo, com os outros, com o mundo; afinal, tudo isso é uno.
Embora sejamos uno, o que tem sido promovido, conforme a epígrafe que abre esta seção, é uma falta de equilíbrio que segrega tudo ao invés de unir. E se voltássemos ao uno? Seria possível essa volta? Queremos essa volta?
Ao final, vale ainda deixar registrado que não acreditado que já houve algum momento da história no qual tenhamos alcançado plenitude no relacionamento com Pachamama. Se nossos ancestrais viviam em melhor harmonia com a natureza do que a humanidade da era industrial, não podemos apenas romancear que já houve a época em que tudo eram flores e arco-íris. Isso porque há registros vistos e vividos de conflitos sangrentos entre tribos, assim como de rituais de sacrifícios de primogênitos ou virgens como oferendas à fertilidade da terra, além do enterro vivo de enfermos ou de nascidos deficientes etc. etc.
Com isso quero dizer que embora eu tenho buscado, como educador, como professor formador de professores, uma forma de voltar à onipresença de Pachamama, isso não quer dizer apenas um retorno ao passado idealizado, sem qualquer relativização ou reflexão sobre conflitos de outrora.
Dessa forma, a ideação de uma volta, a idealização de Pachamama e a esperança de uma educação planetária digna implicam um esforço a um futuro que nunca vivemos antes como espécie humana. Seria isso possível? Faz parte do futuro que queremos? Do mundo que desejamos?
Espero que sim.
Referencias bibliográficas
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Biodata
Iván Fortunato: Doctor en Geografía, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. (UNESP), campus Rio Claro. Doctor en Desenvolvimento Humano e Tecnologias. Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Rio Claro. Licenciado en Pedagogía, Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus Araraquara. Professor Instituto Federal de São Paulo, campus Itapetininga, Brasil. Grupo de investigación fopetec.
[1] Tradução de: The past is everywhere. All around us lie features with more or less familiar antecedents. Relics, histories, memories suffuse human experience. Most past traces ultimately perish, and all that remain are altered. But they are collectively enduring. Noticed or ignored, cherished or spurned, the past is omnipresente.
[2] Link direto: https://www.survivalbrasil.org/povos/yanomami
[3] Traduzido de: La categoría étnica “pacha” equivale a universo, mundo, tiempo, espacio y cielo. Mama quiere decir anciana.
[4] Traduzido de: Pachamama, es una composición de dos palabras, por una parte, pacha es una palabra dual de interpretación recíproca conectada con dos condiciones: una estática (espacio) y otra dinámica (tiempo), el pacha representa al tiempo andino en forma de bucle o espiral visto desde arriba.
[5] Traduzido de: tierra grande, diretora y sustentadora de la vida.
[6] Traduzido de: la Madre tierra, Pachamama, se manifiesta en la figura de una mujer, que aparece en el sueño como una anciana desconocida.
[7] Tradução de: “La Pachamama y el humano”. Qué título, qué duda. La pregunta fundamental. La vida. ¿Qué ha hecho el humano hasta ahora para responder? El humano no ha respondido adecuadamente aún sobre cómo ha venido tratando a la Pachamama. En lugar de lograr el equilibrio para llegar a una paz eterna, ha hecho todo lo contrario. Las guerras, la fabricación de armas, la expoliación y explotación de la naturaleza hasta el hartazgo, no han hecho más que promover un mundo de ricos, pobres, hambrientos, esclavos... de razas “superiores y civilizadas” y de “inferiores y salvajes”.